domingo, 24 de junho de 2012

66. Bombino (Níger) / La Reverdie (Itália)


Encantos da Alma (24/06/2012)
1.ª hora: Bombino (Níger)
“Omara “Bombino Moctar nasceu em 1980 numa família de pastores nómadas tuaregues da zona de Agadez, no Níger, uma das regiões mais pobres de África e, nas últimas duas décadas, palco das lutas independentistas dos tuaregues. Nos anos 90, durante uma dessas rebeliões, a família de Bombino exilou-se na Argélia, onde aprendeu a tocar guitarra, influenciado por músicos como Ali Farka Touré e Jimi Hendrix, tornando-se num exímio guitarrista e numa voz para o seu povo no Sahara e no Sahel.
A carreira de Bombino começara como cozinheiro e trovador, viajando com turistas que visitavam as dunas perto de Agadez. Em 1998, integrou o grupo Tidawt e, em 2004, estreou-se em disco com Agamgam; em 2009 saiu “Guitars from Agadez (Music of Niger), Vol. 2e em 2011 Agadez, o registo aqui em destaque, uma fusão de blues, rock e tradição tuaregue que o coloca a par de bandas como Tinariwen, Terakraft, Tamikrest ou Tartit na vanguarda da nova música do deserto.
Bombino centra-se as suas letras na repressão de que os Tuaregues são vítimas nas atuais sociedades do Magrebe, na luta pela autodeterminação do povo nómada e na importância do deserto, um lugar fundamental para os Tuaregues. Por outro lado, faz com que a música norte-africana das regiões próximas do Sahara pareça saída de um outro planeta, ao adorná-la com guitarras galopantes e uma voz hipnótica e ao injetá-la de blues, psicadelismo e acid-rock.”
(10) Tebsakh Dalet (5:09) “Agadez”
(05) Tigrawahi Tikma (5:18) “Agadez”
(01) Ahoulaguine Akaline (4:05) “Agadez”
(02) Tar Hani (6:31) “Agadez”

2ª Hora: La Reverdie (Itália)
“Inspirando-se nas reverdie - romances líricos dos séculos XII e XIII que celebravam o retorno da Primavera - o agrupamento La Reverdie foi fundado em 1986, em Itália, por dois pares de irmãs (Claudia e Livia Caffagni, de Modena e Elisabetta e Ella de Mircovich, oriundas de Trieste). O quarteto resolveu unir as suas diversas experiências como cantoras e instrumentistas e fundar um ensemble, com o objetivo de recrear o repertório musical europeu da Alta Idade Média e da transição para o Renascimento. O núcleo inicial das Reverdie foi, entretanto, alargado a outros músicos, nomeadamente ao norte-americano Doron David Sherwin, casado com Livia Caffagni, e um dos maiores especialistas de corneto (instrumento de sopro renascentista), bem como um versátil percussionista e cantor.
Um dos mais fascinantes e imaginativos projetos em torno da música medieval surgido nas últimas décadas, La Reverdie tem feito um estudo filológico minucioso e apaixonado, através do qual desenvolve os seus programas, sempre focalizados em temas de intenso valor cultural e simbólico. Uma particular atenção é dedicada ao vasto e ainda pouco explorado domínio do “teatro sacro”: dramas litúrgicos e liturgia dramática, representações coletivas e manifestações evocativas da religiosidade de uma época cujos ecos não se extinguiram ainda. Ao reconstruir com apaixonada fidelidade os seus achados arqueológicos, La Reverdie pretende e consegue que o público os possa percecionar, enquanto fragmentos vivos de uma cultura transcorrida mas não perdida.
Entre as gravações discográficas mais importantes de La Reverdie, destacam-se as realizadas para a etiquetas Nuova Era e Giulia e, a partir de 1993, para a editora ARCANA, em co-produção com a WDR (Westdeutscher Rundfunk). A maior parte dos seus registos obtiveram a aclamação das principais revistas da especialidade, designadamente das revistas francesas Repértoire e Diapason. Da cerca de dezena e meia de discos editados, destacam-se, por exemplo, Speculum Amoris (1993), “Laude di Sancta Maria (1994), “Suso in Italia bella(1995), “Insula feminarum(1997), “Nox-Lux-France & Angleterre, 1200-1300(2001), “Jacopo da Bologna: madrigali e cacce” (2005) ou “Carmina Burana – Sacri Sarcasmi” (2009).
(05) Pange melos lacrimosum (4:00)Nox-Lux
(05) Voi ch’amate (5:10)Laude di Sancta Maria 
(--) Stela Splendens (3:59)

domingo, 17 de junho de 2012

65. Antwerp Gipsy-Ska Orkestra - (Bélgica/…) / Dozan (Jordânia/…)

Encantos da Alma (17/06/2012)
1.ª hora: Antwerp Gipsy-Ska Orkestra - (Bélgica/…)
““Com músicos provenientes da Bélgica, Sérvia, Chile e Argentina, os Antwerp Gipsy-Ska Orkestra identificam-se como uma família intercontinental e o som que praticam pode classificar-se como Upbeat-Ska-Balkan. A sua abordagem musical é cativante e exclusiva, misturando o drum n’ bass, o samba e o dubstep com os beats dos Balcãs, aos quais acrescentam pinceladas de ska rápido com incursões ao hip hop. O resultado de tanta multiculturalidade é uma fusão perfeita de ambientes, à qual é impossível ficar indiferente.
A energia contagiante e a sua miscelânea de encontros musicais têm levado os Antwerp Gipsy-Ska Orkestra a marcar presença na generalidade dos grandes festivais europeus de world music. Em Maio deste ano (2012), os portugueses tiveram a oportunidade de os ver e ouvir no Rock in Rio Lisboa e no conceituado Imagiarius, em Santa Maria da Feira.
Até à data, os Antwerp Gipsy-Ska Orkestra têm dois álbuns editados, “Tuttilegal(2007) eI Lumia Mo Kher(2010), registos onde são notórios os cruzamentos entre os vários estilos musicais, a faceta aventureira do grupo e uma abordagem inovadora. Contando, no segundo registo, com a participação do sérvio Marko Markovic, o rei do trompete, da insuspeita Kočani Orkestar, ou fazendo uma homenagem a Saban Bajramovic, o Frank Sinatra dos Roms, os Antwerp Gipsy-Ska Orkestra revelam-se como uma das bandas mais entusiasmantes no momento.”
(05) DJelem DJelem (5:12) “Tuttilegal”
(08) Te Laat (4:02) “I Lumia Mo Kher”
(04) Tuttilegal (4:08) “Tuttilegal”
(02) No Disco Boy (3:30) “I Lumia Mo Kher”
(05) Ne Dirai (2:30) “I Lumia Mo Kher”

2ª Hora: Dozan (Jordânia/…)
“Os Dozan começaram quando a vocalista Shireen Abu-Khader criou um fascinante veículo para o desenvolvimento da música devocional com base no Próximo Oriente e nas tradições medievais. Natural da Jordânia, Shireen soube rodear-se de extraordinários músicos de diversas origens culturais e dedicou-se a celebrar a beleza, o amor, a dissonância perfeita e os ritmos apaixonantes.
Embora cerca de metade das composições dos Dozan sejam atribuídas a membros do grupo, o som baseia-se na tradição de influência Sufi, na música clássica árabe e em canções árabo-andalusas da Idade Média. O que torna os Dozan inovadores é a utilização simultânea de instrumentação ocidental e oriental, uma vez que usam o violoncelo, viola e a guitarra, ao lado do oud e de percussões do Médio Oriente.
Um pouco à semelhança dos Stellamara, já aqui destacados, os Dozan são um grupo de música de câmara que oferece um novo olhar sobre a música popular do Oriente. Em Introducing Dozan” (World Music Network, 2008), o único álbum que editaram até à data, desfilam oito temas soberbos, em que as vozes cristalinas das encantadoras Shireen Abu-Khader e Nadine Shahuan, bem como a de Rashwan Sabbagh, e a musicalidade de toda a banda que os acompanham brilham, de forma exuberante. Ouvir os Dozan é como passar por uma nova experiência de fábulas místicas medievais, de misteriosas e profundas vozes orientais, de ritmos provenientes de recônditos paraísos e de ondas expansivas de sons que enlevam os sentidos.”
(01) Lamma Bada Yatathanna (3:24)
(02) Ya Jarati (4:41)
(05) Ya Layl (3:31)
(03) Ya Mo (3:27)
(07) Hal Asmar Allon (6:03)

domingo, 10 de junho de 2012

64. Cumbia Cumbia (Colômbia) / Montserrat Figueras (Catalunha)

Encantos da Alma (10/06/2012)
1.ª hora: Cumbia Cumbia (Colômbia)
“A cumbia é uma das expressões melódicas mais representativas da Colômbia. Nela confluem três culturas: a negra africana, a indígena e a europeia. A negra ofereceu o ritmo dos tambores e os movimentos sensuais, marcadamente sedutores; a indígena a flauta de bambu e as gaitas, elementos fundamentais na melodia; a europeia contribui com algumas variações nas melodias, na coreografia e nos trajes dos dançarinos.
A origem da cumbia remonta à época da escravidão e deriva da palavra negra “cumbé”, que significa festa e que representa um ritmo e dança da zona de Mbata, na Guiné Equatorial. Deriva, ainda, de “caracumbé”, um jogo coreográfico que teve o seu apogeu no estado de Antioquia, quando os negros trabalhavam nas minas; deriva, também, de “para-cumbé”, uma dança desaparecida; e, finalmente, de “cumbancha”, que em Cuba significa Jogorio ou Parranda.
A World Circuit Records lançou em Abril deste ano (2012) um duplo CD (bem como uma edição limitada em duplo LP) intitulado Cumbia Cumbia 1 & 2. A coleção apresenta trinta faixas gravadas no lendário estúdio colombiano Discos Fuentes, entre 1950 e 1988, anteriormente editadas em dois volumes, em 1989 e 1994, respetivamente.”
(02) Gabriel RomeroLa Subienda (4:32) “CD One”
(01) Rodolfo Y Su Tipica RA7La Colegiala (3:40) “CD One”
(03) Armando Hernandez Y Su ConjuntoLa Zenaida (4:28) “CD One”
(04) Adolfo Echeverría Y Su Conjunto - Amaneciento (3:50) “CD One”
(09) Los ImmortalesLa Pollera Colora (3:05) “CD One”
(10) Lito Barrientos Cumbia En Do Menor (2:44) “CD Two”

2ª Hora: Montserrat Figueras (Catalunha)
“Falecida em novembro de 2011, a soprano Montserrat Figueras nasceu em Barcelona numa família de melómanos, tendo casado com o músico e maestro Jordi Savall. Dedicando grande parte da sua carreira à música antiga, desde cedo, Montserrat dedicou-se ao estudo das técnicas vocais de canto, desde os trovadores à música barroca, e desenvolveu um estilo de interpretação que alia vitalidade à fidelidade histórica. Juntou-se ao grupo de música antiga Ars Musicae de Barcelona, com o qual interpretou obras dos mais importantes compositores espanhóis do século XVI e, com o marido, fundou o coro La Capella Reial de Catalunya, a orquestra Le Concert des Nations, o agrupamento Hespèrion XXI e a editora Alia Vox.
Montserrat Figueras obteve, ao longo da carreira, vários prémios. Em 2003, recebeu o título de dama da Ordem das Artes e das Letras de Espanha e, cinco anos mais tarde, a soprano espanhola e Jordi Savall foram eleitos “artistas pela paz”, pela UNESCO. Recebeu, ainda, entre outros, o Edison Klassiek, o Grand Prix da Académie Charles Cros, um Grammy pelo livro-CD Dinastía Borgia e, em 2011, a Cruz de São Jorge, da Generalitat de Catalunya.
Durante a sua carreira artística, Montserrat Figueras gravou mais de 60 CDs. No último disco que editou em vida, Cançons de la Catalunya mil-lenária, contou com a presença dos filhos Arianna e Ferran Savall e dos músicos sempre presentes nas formações criadas por si e por Jordi Savall, o harpista Andrew Lawrence-King, o flautista Pedro Memelsdorff, o guitarrista Rolf Lislevand e o cravista Rinaldo Alessandrini. Em Março deste ano (2012), foi editado o luxuoso registo duplo “La voix de l'émotion”, uma retrospetiva da sua carreira, brilhantemente documentada, entre outros, pelo musicólogo português Rui Vieira Nery.
(03) A chanter m’er de so (Comtessa de Dia) (6:53) “La voix de l’émotion” (CD2)
(05) Berceuse Amazigh (Anon. Berbère) (2:32) Ninna Nanna”
(09) Apo xeno meros (Traditionnelle grecque) (2:57) “Du temps & de l’instant”
(26) Ghazali (en Arabe, Grec & Hébreu) (3:03) “Jérusalem” (CD2)

domingo, 3 de junho de 2012

63. Hadja Kouyaté (Guiné-Conakri) / Ensemble Harel (Israel/…)


Encantos da Alma (03/06/2012)
 1.ª hora: Hadja Kouyaté (Guiné-Conakri)
Hadja Kouyaté nasceu no sul da Guiné-Conakry, onde começou a carreira de cantora, seguindo os passos da mãe, a conhecida Diéfadima Kanté. O seu trabalho insere-se na tradição dos griots, os trovadores da costa ocidental africana e transmissores dos saberes e das crenças, que passam de geração em geração, unindo o passado ao presente e sustentando uma unidade de representação espiritual e divina.
Hadja Kouyaté começou a sua atividade artística aos cinco anos e passou muito tempo a viajar de localidade em localidade para fazer cerimónias de batismos, casamentos e circuncisões, entre outras. Hoje, Hadja Kouyaté é conhecida como uma das raras e mais representativas griots que defendem a ideia de uma cultura tradicional forte e rural em sintonia com o mundo atual.
A música de Hadja Kouyaté mistura rituais sagrados e uma atmosfera pagã e rapidamente adquiriu notoriedade tanto no seu país de origem como no cenário internacional. Conhecida como o “Anjo vocal da Guiné-Conakry”, Hadja Kouyaté começou por participar como corista em álbuns dos consagrados Sekouba Bambino, Kandia Kouyate, Salif Keita e do marido Amadou Sodia, entre outros, e atuou ao lado de Frédéric Galliano no emblemático “African Divas”. Em pouco tempo, transformou-se numa referência da música da costa oeste de África e numa autêntica “besta do palco”, tal a sensualidade e energia com que se entrega nos concertos ao vivo. Até à data, editou, em nome próprio, os registos Manding-Ko (2001, Frikyiwa), acompanhada pelo senegalês Ali Boulo Santo, Tomassere (2003, Syllart), Yilimalo (2004, Frikyiwa), com o grupo Les Guinéens, Senfou (2006, RSD Records) e Tourou Tourou(2011, Walla Prod Ideal Songs Groovin Musik).”
(01) Djigui (5:05) (instrumental) “Manding-Ko”
(02) Agné Tolona (5:34) “Manding-Ko”
(09) Diarabi (chérie) (5:04) “Yilimalo”
(02) Tourou Tourou (3:00) “Tourou Tourou”
(04) Sitan Diarra (5:05) “Tomassere”

2ª Hora: Ensemble Harel (Israel/…)
“Os judeus que viveram na Península Ibérica e que foram expulsos de Espanha em 1492 e de Portugal em 1497 constituíram uma população heterogénea, porque proveniente de vários centros do judaísmo peninsular, cada um possuidor do seu próprio estilo poético e da sua tradição específica. Enquanto as cantigas de Santa Maria e coleções análogas forneciam informações sobre a tradição musical da Península, apenas se supõe que a música profana hispano-judaica se assemelhava à dos muçulmanos e cristãos hispânicos. Não existem dados precisos que nos permitam tirar conclusões sobre as tradições musicais subjacentes ao romanceiro judaico-espanhol.
Ao longo dos cinco séculos de exílio, a cultura judaico-espanhola expôs-se a numerosas influências das terras que atravessaram e das que escolheram para local de acolhimento. A música judaico-espanhola apresenta-se, assim, como um mosaico onde o sacro coexiste com o profano, os temas judaicos com os temas comuns a toda a humanidade, o oriente com o ocidente, o antigo com o novo. Verdadeiro património, o cancioneiro profano judeo-espanhol foi transmitido de geração em geração sobretudo pelas mulheres no espaço da vida quotidiana e o sacro pelos homens nas sinagogas.
É sobretudo sobre o repertório judaico-espanhol que o registo Yedid Nefesh - Amant de mon âme” (2004 Alpha) do Ensemble Harel se debruça. Formado por Meirav Ben David-Harel (voz, percussão e chifonie), Yaïr Harel (voz e percussão), Nima Ben David (viola da gamba) e Michèle Claude (percussões), músicos originários de Israel e da França, cujos avós (provenientes do Iraque, Kurdistão, Jugoslávia, Tunísia, Rússia, Hungria, Espanha e Israel) revelam bem a heterogeneidade das suas origens, o Ensemble Harel interpreta “Yedid Nefeshum repertório bastante exaustivo, com cantos religiosos e profanos da tradição sefardita, em ladino, árabe e hebraico.”
(01) Yedidi Hashakhakhta (7:11)
(10) Shaar, petakh dodi (4:01)
(12) Shalom leven-dodi (5:28)
(03) Ya viene el cativo (3:17)