Encantos da Alma (16/12/2012)
1ª
hora: Romica Puceanu (Roménia)
“Após a abolição da escravatura em 1864, muitos
ciganos sem lar fixaram-se nos arredores das cidades do sul da Roménia. Estes
bairros, situados entre a cidade e o campo, ficaram conhecidos como “mahalas” e
foi aí que surgiram as “cântece de mahala”, as canções dos subúrbios (baseadas
na música turca otomana, interpretada desde o séc. XVI nas cortes dos príncipes
da Valáquia). Quando as pessoas se encontram nos “cãrciumã” (cafés ajardinados)
são entretidas por um grupo de músicos conhecidos por Taraf, constituído por
violino, baixo, címbalo, acordeão, cobza (alaúde de quatro cordas) e vozes. O
repertório destes músicos ciganos, conhecidos por Lautari, compreende peças de
cariz rústico, interpretadas com grande virtuosismo e arranjos urbanos.
A grande dama do “cântece de mahala”, Romica Puceanu, nascida em Bucareste em 1926, começou a atuar com 14 anos de
idade. Em 1964 gravou o seu primeiro disco e passou a ser acompanhada pelos
irmãos Gore. Tornou-se numa bem-sucedida intérprete de canções dos subúrbios
pobres de Bucareste, que misturavam ritmos “cifte-telli” turcos com melodias e
líricas romenas. Em pouco tempo, Romica Puceanu transformou-se na mais
importante e mais bem paga cantora da música Lautari romena. Tão lendária para
os ciganos, como o foi Maria Tanase para os romenos, Romica Puceanu passou a
ser conhecida como a “Billie Holiday do Leste.
Nos anos 90, a cena musical da Roménia foi dominada pelo
Pop dos Balcãs e a música dos Lautari caiu no esquecimento e a incomparável
Romica Puceanu faleceu em 1996, num acidente de automóvel, quando se dirigia
para casa, após uma atuação numa festa de casamento. Em 2006, a Asphalt Tango
Records presta-lhe homenagem editando a fabulosa antologia Romica Puceanu &
the Gore Brothers – “Sounds from a Bygona Age – Vol. 2”.
(12) Cind Erai A Mea Iubita (4:24) “Gypsy Queens”
(06) Erau Zarzarii-Nfloriti
(5:33) “Road of the Gypsies”
(08) Inima Suparacioasa
(3:28) “Sounds from a Bygona Age, Vol. 2”
(11) Adu Calu Sa Ma Duc
(4:19) “Sounds from a Bygona Age, Vol. 2”
(01) In Gradina Cu Tufani
(4:24) “Sounds from a Bygona Age, Vol. 2”
2ª
hora: Ensemble Cypriote de Musique Ancienne (Chipre)
“Chipre, a ilha de Afrodite,
encravada no Mediterrâneo, entre a Europa e a Ásia, durante milhares de anos
ponto de passagem de invasões e de correntes culturais diversas, tem sentido
uma necessidade urgente de se definir. É bem possível que essa emergência tenha
sido desencadeada pela recente influência britânica que, ao tentar impor a sua
cultura como dominante, levou os cipriotas a considerar as suas tradições orais
como um património a preservar.
Os traços da tradição recolhidos são sobretudo de
duas origens: poemas épicos cantados, veiculados pela tradição oral dos
trovadores que, de cidade em cidade, transmitiam principalmente os “cantos
acríticos”, isto é, os cantos dos soldados-sentinelas que guardavam as
fronteiras do Império Bizantino, entre os séculos IX e XII; ainda, cantos de
circunstância, cuja motivação é mais ou menos a mesma em todas as culturas: o
amor, a separação e os lamentos pela dor ou pela morte. Estas melodias
encontram-se em diversas versões em todos os recantos da ilha e são cantados em
ocasiões de festas, de casamentos e de funerais.
A música, igualmente um produto de várias
influências, contém elementos populares gregos e do Médio Oriente, misturados
com traços da música bizantina das igrejas. O resultado, no entanto, é uma
música tipicamente cipriota, ela própria também influenciando os trovadores da
Occitânia, no momento do regresso das Cruzadas. Respeitando as formas melódicas
vocais e inserindo-lhes música instrumental a partir de temas populares,
Michaël Christodoulides formou o Ensemble Cypriote de Musique Ancienne, que constitui um ponto de partida para a procura da
identidade do povo de Chipre”.
(02) Tessera Tsie Tessera
(4:06) “Epic and Popular Songs from Cyprus”
(03) Roulla-Mou,
Maroulla-Mou (2:48) “Epic and Popular Songs from Cyprus”
(05) Myrologue (6:13) “Epic and Popular Songs from Cyprus”
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