domingo, 24 de fevereiro de 2013

83. Alim Qasimov (Azerbaijão) / Pedro Aledo (Espanha)



Encantos da Alma  (24/02/2013)
1ª hora: Alim Qasimov (Azerbaijão)
Alim Qasimov, reconhecido como a “Voz do Povo” do Azerbaijão, conquistou o prémio da música da UNESCO em 1999, tem sete discos editados fora do seu país e é considerado o expoente máximo e principal embaixador do mugham, a complexa poesia musical da tradição azeri. No entanto, Alim Qasimov é também um inovador que não se acomodou ao estatuto de estrela, procurando antes renovar a herança musical do Azerbaijão, sem cair, porém, nas soluções de compromisso com o ocidente.
Tal como o maqam turco ou persa, a arte musical do mugham, no Azerbaijão, surgiu da confluência das correntes árabe, persa e bizantina e remonta ao século XI. Nessa arte musical azeri, a carga emocional é tão importante como a técnica vocal. Para quem a voz profunda e dramática até à exaustão de Alim Qasimov, for, mesmo assim, uma ementa demasiado árida, existe em alguns dos seus discos, uma variante igualmente profunda e prodigiosa, mas bastante mais melodiosa, a da sua filha Ferghana Qasimova.
Da discografia de Qasimov, destacam-se os registos The Legendary Art of Mugham, onde o músico se debruça sobre o mugham, a tradição clássica do Azerbaijão que se desenvolve através da improvisação, baseada num sistema modal; e  Love’s Deep Ocean”, onde o repertório clássico do mugham cede lugar a canções populares e aos cânticos bardos ashiq e onde utiliza para além da instrumentação habitual (o tar - alaúde, o daf - tambor e a kamancheh - o violino), outros como o clarinete, balaban (instrumento cordofone de caça) e a nagara (tambor duplo ressonante).”
(03) Getme Getme / Aman Avdji (10:00) The Legendary Art of Mugham
(04) Mugham Qatâr  (9:21) Love’s Deep Ocean

2ª hora: Pedro Aledo (Espanha)
Pedro Aledo nasceu na região de Murcia, em Espanha, tendo-se mudado para França para se dedicar à música e, mais recentemente, à fotografia artística e à pintura. O seu percurso artístico incide sobre repertórios diversos, com especial incidência sobre a evocação tripartida das três culturas que se cruzaram em Espanha, durante o século XIII: a cristã, a árabe e a sefardita.
Apaixonado pela música antiga e pelas culturas do mundo, em particular pelas culturas musicais mediterrânicas, Pedro Aledo foi elaborando programas em torno da guitarra solo e da voz, embora também tenha gravado discos e atuado em trio, quinteto e com formações com até 25 músicos. O conteúdo desses programas abarca repertório em espanhol, francês, grego, italiano, corso, turco, árabe, provençal ou catalão e incide sobre composições próprias, cantos tradicionais, música medieval e peças para guitarra e outros instrumentos.
A discografia de Pedro Aledo é rica e variada: Desde o registo “Apériludes”, com composições pessoais em guitarra solo, a “Coplas Sefardies” de Alberto Hemsi para canto e piano, passando por “D'île en île”, “Tres curpos una alma”, “Fusion méditerranée”, “Cantos antiguos y cantos nuevos”, “Sortilèges des musiques méditerranéennes”, “Noël en méditerranée”, (vencedor do Grande Prémio da Academia Charles Cros) ou “Suerte”, com o sírio Abed Azrié, Pedro Aledo tem-se desdobrado, ao longo da sua carreira, e surpreendido o mundo da música.”
(05) Arvoles (3:23) “Tres cuerpos, una alma
(11) Sepharabe (3:48) D’île en île
(13) Separation (3:34) D’île en île
(09) En la mar ay una torre (3:01) Sortilèges des musiques méditerranéennes
(07) Naoubah (Extraits) (3:57) Sortilèges des musiques méditerranéennes
(02) Que por al non deves (3:36) “Tres cuerpos, una alma"
 

domingo, 17 de fevereiro de 2013

82. Baaba Maal (Senegal) / Isabel Palacios (Venezuela)



Encantos da Alma  (17/02/2013)
1ª hora: Baaba Maal (Senegal)
Baaba Maal é um cantor, compositor, percussionista e guitarrista senegalês, nascido em Podor, uma vila de 6 mil habitantes na margem do rio Senegal, na fronteira com a Mauritânia. Juntamente com Youssou N’Dour, Maal é considerado um dos maiores cantores do Senegal e um dos mais impressionantes músicos da fusão da tradição africana com sons ocidentais.
Oriundo da etnia Halpulaar, por vezes designada Tukolor, das zonas desérticas do norte do Senegal, Baaba Maal formou-se na Escola das Artes de Dakar, onde enquadrou a banda de Asly Kouta e formou o grupo Lasli Fouta, com o seu amigo e guitarrista cego Mansour Seck. Em 1985 fundou os Daande Lenol (“A Voz do Povo”), um grupo apostado na modernização dos ritmos tradicionais senegaleses, em particular os da sua etnia. Com a banda, Baaba Maal segue para Paris, onde gravou dois discos para a etiqueta Syllart.
A internacionalização de Baaba Maal começou em 1989 com o fabuloso Djam Leelii, em parceria com Mansour Seck, onde as guitarras acústicas, com fortes reminiscências do pequeno alaúde tradicional da África Ocidental, são adornadas por vocalizações com claras ressonâncias árabes. A partir daí, a sua carreira foi-se consolidando, à medida que ia editando discos hipnóticos e deliciosos. Destacam-seBaayo (1991), tocado em instrumentos tradicionais como a tama e o hoddu e centrado em padrões musicais da sua etnia; Lam Toro(1992), onde Baaba ensaia metodicamente a aproximação à música elétrica; Firin’in Fouta (1994) e Nomad Soul (1998), que promovem a entrada declarada de Baaba Maal no território de fusionismos, ao misturar sonoridades tradicionalmente africanas com elementos da música reggae, salsa e pop; e Missing You (Mi Yeewnii) (2001), um disco de encantadora serenidade, em que Baaba Maal regressa ao som das suas raízes. Em 2008, Maal lançou a compilação On the Road (2008), que foi considerada pelo jornal britânico The Independent um dos melhores discos de world music já produzidos neste planeta sonoro.”
(04) Salminanam (4:25) Djam Leelii
(07) Yero Mama (4:39) Baayo
(03) Daande Leñol (5:51) Lam Toro

2ª hora: Isabel Palacios (Venezuela)
Isabel Palacios, nascida em 1950 em Caracas, é uma das mais destacadas mezzo-soprano sul-americanas. Fundadora e diretora artística da Camerata de Caracas, tem dedicado o seu talento e o seu conhecimento ao desenvolvimento dos seus projetos artísticos, nomeadamente a Camerata Renacentista de Caracas e a Camerata Barroca de Caracas, sempre com alto nível interpretativo.
Atualmente, Isabel Palacios é uma dos mais populares artistas da Venezuela, reconhecida pela qualidade do seu trabalho de intérprete, pela direção de uma grande quantidade de músicos que a acompanham ou pelas oficinas de interpretação que organiza e dirige. A sua carreira começou em 1967, após formação na Escola de Música "Juan Manuel Olivares". Fez, depois, uma pós-graduação na Guildhall School of Music and Drama de Londres e, mais tarde, continuou os estudos superiores de canto e de interpretação de música medieval, renascentista e barroca.
Como cantora profissional, o repertório de Isabel Palacios é extenso e variado, abordando estilos que vão desde a música antiga a canções de cabaré ou da música erudita à música contemporânea. Por sua vez, Palacios foi convidada para solista da New London Consort, dirigida pelo renomado Pickett Philip e participou, ainda, em trabalhos do conceituado músico catalão Jordi Savall. As obras de Isabel Palacios que vamos aqui destacar hoje são, no entanto, os dois registos que dedicou à música medieval: “Yo me enamorí de un ayre”, que inclui romances sefarditas; e “Rosa das Rosas, que abarca Cantigas de Amigo de Martín Codax, Cantigas de Santa Maria de Afonso X "El Sabio", poesias da Trobairitz Comtessa de Día e planctus do Mosteiro de Las Huelgas.”
Yo me enamori de un Ayre (2:03) “Canciones y Romances Sefarditas”
Hermanas Reina y Cautiva (5:37) “Canciones y Romances Sefarditas”
La rosa enflorece (2:49) “Canciones y Romances Sefarditas”
Rosa das Rosas (5:19)Rosa das Rosas, Cantos y Cantigas de la Edad Media”
Ondas do Mar de Vigo (3:15) Cantos y Cantigas de la Edad Media”



domingo, 10 de fevereiro de 2013

81. Idjah Hadidjah (Indonésia) / Les Fin’Amoureuses (França/Holanda)



Encantos da Alma  (10/02/2013)
1ª hora: Idjah Hadidjah (Indonésia)
“A maior parte dos géneros musicais populares da Indonésia são baseados noutros, exteriores ao país, como o rock ocidental, a música pop e fusão, a música de filmes indianos e a popular do Médio Oriente; usam, ainda, instrumentos do Ocidente e não têm quaisquer laços de ligação a regiões específicas indonésias. Porém, nos anos 70 do século passado, surgiu um novo estilo de música popular e de dança, totalmente indonésio, conhecido por Jaipongan. Trata-se de um género musical inteiramente regional e tradicional, revelando pouca ou nenhuma influência do ocidente, que abarca fraseados musicais que conduzem, ao mesmo tempo, a movimentos de dança eróticos e humorísticos; o acompanhamento musical é, naturalmente, dominado por percussões exuberantes e altamente dinâmicas.
O Jaipongan teve origem na região de Sunda, a oeste da ilha de Jara, é cantado na linguagem sundanesa e usa instrumentos e idiomas musicais e coreográficos da tradição desta região indonésia. Desenvolveu-se graças, sobretudo, à ação do compositor, arranjador, produtor e coreógrafo Gugum Gumbira, que durante grande parte da sua vida se dedicou à recolha dos elementos tradicionais existentes nas vilas e cidades do oeste da ilha de Java. Partindo de outras formas musicais como o Ketuk Tilu, o Kliningan e o Topeng Banjet e da utilização de vários instrumentos das orquestras de gamelões, nomeadamente as gongas e os metalofones, aos quais juntou uma grande bateria de tambores, Gugum, rodeado de um grupo de músicos e dançarinos, rapidamente criou um conjunto de canções para serem dançadas e tocadas em palco para uma audiência. Nascia um estilo exuberante, dramático, inteiramente contemporâneo, o primeiro regional a tornar-se rapidamente aceite fora do seu local de origem.
Depois de Gugum Gumbira, talvez seja Idjah Hadidjah a mais importante representante da música sundanesa. Fazendo-se acompanhar pelo grupo Jugala, revela-se no álbum “Tonggeret”, talvez o registo mais significativo da música Jaipongan.”
(02) Bayu-bayu (3:44)
(04) Hiji Catetan (8:09)
(05) Arun Bandung (7:11)

2ª hora: Les Fin’Amoureuses (França/Holanda)
Atraídas pela música modal, a holandesa Nannette van Zanten e a francesa Nathalie Waller, a quem se junta, mais tarde, Emmanuelle Drouet (francesa de origem judaica), formaram Les Fin’Amoureuses, explorando, desde 1990, a música medieval, em particular a dos países mediterrânicos, bem como canções tradicionais francesas e judaico-espanholas, a maior parte delas recolhidas no Império Otomano do séc. XIX. 
Através do musicólogo Vladimir Ivanoff, o búlgaro que dirige os Vox e os Sarband, Les Fin’Amoureuses descobrem os salmos Huguenotes, escritos em 1562, traduzidos em turco pelo músico da corte otomana Bobowsky, também conhecido por Ali Ufki (1610-1675). Apesar de marcadas pela cultura protestante, Les Fin’Amoureuses embrenham-se no saltério Huguenote (composto por 150 canções sacras ou poemas e orações destinadas a ser cantadas), um tesouro musical da Renascença, meio caminho entre música popular e arte.
As canções sefarditas e turcas, bem como as tradicionais francesas, constituem, então, a base do trabalho das Fin’Amoureuses; são, no entanto interpretadas livremente, uma vez que o trio inventa as harmonizações e acompanhamentos e cria a sua própria linguagem, sem se afastar, contudo, das técnicas e estéticas instrumentais medievais e barrocas. Com tão vasto repertório, Les Fin’Amoureuses realizaram o magnífico “Marions Les Roses: chansons & psaumes, de la France à l’Empire Ottoman” (2005 Alpha), registo que aqui em destaque.”
(13) Fel Shara' canet betétmasha (2:15)
(09) Quand je menais mes chevaux boire (4:19)
(17) Yo era ninya (5:03)
(05) La galana (3:41)
(14) Alta, alta es la luna (2:36)