domingo, 26 de fevereiro de 2012

50. Sussan Deyhim (Irão) / Irfan (Bulgária)

Encantos da Alma (26/02/2012)
 Destaques
1.ª Hora: Sussan Deyhim (Irão)
Sussan Deyhim, uma das mais brilhantes vocalistas do planeta, nasceu em Teerão (Irão) e vive desde 1980 na cosmopolita Nova Iorque. Teve um percurso artístico como atriz de teatro e bailarina na Companhia Nacional de Ballet do Irão. Desde que foi para os EUA, a cantora e performer Sussan Deyhim tomou contacto com o efervescente panorama das artes visuais, da música e do teatro ocidentais e colaborou com inúmeros artistas de renome como Mickey Hart, Branford Marsalis, Christian Marclay, Elliott Sharp, Arto Lindsay, Bill Laswell, Ornette Coleman, Jah Wobble, entre outros.
Depois de atuar em diversos festivais de world music e de música contemporânea, o início do reconhecimento artístico internacional deu-se quando Deyhim colaborou em bandas sonoras de filmes de grandes realizadores, como foi o caso do filme “A Última Tentação de Cristo” de Martin Scorsese, ou de filmes de Oliver Stone e de Adrian Lyne. Fruto desta experiência com o cinema, a cantora e compositora conheceu Richard Horowitz, reputado músico multi-instrumentista, compositor de bandas sonoras, e praticante da fusão entre jazz, música árabe, clássica e eletrónica. Foi com Horowitz que Sussan Deyhim empreendeu duas décadas de colaboração criativa até à data, desde concertos ao vivo, gravação de discos, performances e projetos multimédia.
Dona de uma voz de grande expressividade tímbrica e melódica, Sussan Deyhim é também uma compositora de talento, recuperando as tradições étnicas do seu país, especialmente a herança vocal, dando-lhes um cariz artístico muito particular ao mergulhar na música genuinamente étnica e na erudita contemporânea de vanguarda. É, por exemplo, o caso do álbum “Madman Of God” (2000), o seu registo mais significativo, concebido com base numa seleção de melodias clássicas do reportório medieval persa e de poetas Sufi dos séculos XI a XIX. De resto, a discografia de Sussan Deyhim, a solo ou com as colaborações de Richard Horowitz, Bill Laswel ou Shirin Neshat, está repleta de exemplos de grande profundidade e sofisticação formal, onde a excelsa e etérea voz de Deyhim se conjuga com as divagações percussionistas do Médio Oriente e demais instrumentos acústicos e exóticos. O trabalho musical de Deyhim vai sobretudo ao encontro da miscigenação entre a ancestralidade dos sons muçulmanos com a sensibilidade artística contemporânea.”
(03) Daylaman (6:20) Madman of God
(23) Turbulent (3:27) Turbulent
(07) Gereyley (6:45) Shy Angels
(08) Beshno Az Ney (5:36) City of Leaves

2ª Hora: Irfan (Bulgária)
“Os Irfan são um coletivo búlgaro formado em Sófia em 2001. O seu nome, resgatado à terminologia Sufi, que em persa e árabe significa “gnosis”, “conhecimento místico” ou “revelação”, induz o seu próprio universo, baseado numa cultura de evocações ancestrais, repleto de referências sagradas e de elementos étnicos. A excecional voz de Denitza Seraphimova, que nos lembra a de Lisa Gerrard (Dead Can Dance), formou-se nos coros das tradicionais misteriosas vozes búlgaras. Denitza é o elemento central de um grupo que funde com grande mestria influências de várias culturas.
A música dos Irfan é um convite a uma viagem mística no tempo, uma mensagem poeticamente estendida na linguagem do amor. Apesar da dificuldade em se catalogar a música dos Irfan, os críticos são unânimes em a considerar como uma espécie de fusão das várias músicas étnicas, nomeadamente das tradições búlgara, persa, caucasiana, do Norte de África e do Médio Oriente, fortemente impregnadas pela herança cultural do Império Bizantino e da música medieval ocidental.
Descobertos e aclamados na antologia “Fairy World vol.1”, de 2003, da etiqueta francesa Prikosnovénie, os Irfan editam, nesse mesmo ano, o primeiro registo, simplesmente intitulada “Irfan”, uma autêntica obra-prima, e tornam-se numa das grandes revelações do ano. Em 2007, lançam “Seraphim”, o segundo e último registo até à data, e consolidam o estatuto de banda-culto, uma espécie de reminiscência de Lisa Gerrard, Sarband, Soeur Marie Keirouz e Le Mystère des Voix Bulgares.”
(09) Santa Maria (4:45) Irfan
(06) Los Ojos de la Mora (3:28) Seraphim
(05) Otkrovenie (5:58) Irfan
(13) Stella splendens (5:01)Fairy World II


domingo, 19 de fevereiro de 2012

49. Yaki Kandru (Colômbia) / Grupo Sema (Espanha)

Encantos da Alma (19/02/2012)
 Destaques
1.ª Hora: Yaki Kandru (Colômbia)
Music from the Tropical Rainforest and other Magic Places, do grupo Yaki Kandru, da Colômbia, é um dos discos mais importantes da música dedicada à América pré-colombiana. Trata-se de um projeto que se baseia no romance “Pasos Perdidos”, do escritor e musicólogo cubano Alejo Carpentier, e que se refere a um citadino na floresta virgem à procura da música e da cultura indígenas.
Os Yaki Kandru foram, então, em busca da música arcaica e mágica que acompanha o ritual das tribos indígenas do continente americano e elaboraram uma gravação com elevado sentido de evocação. O universo sonoro reconstruído pela banda fundada por Jorge López revela-se pan-americano e reflete a riqueza e a variedade das melodias e dos cantos das diversas tribos índias do continente.
Do magnífico registo que editaram, vamos ouvir um canto dos Suyá, da Amazónia brasileira, entoado pelas jovens raparigas, na véspera do seu casamento; depois, um canto dos Shawnee dos nativos da América do Norte, entoado sempre no final de cada colheita; ainda, um canto de guerra dos Bari, uma tribo que vive nas proximidades do rio Catatumbo, que atravessa a Venezuela e a Colômbia; e, finalmente, uma improvisação com o Teponaztli, um instrumento maia, originário do México, que nos mostra os ritmos da tradição musical dos índios da floresta virgem de Caquetá, a sudoeste da Colômbia.
(05) Canto de mujeres de los Suyá (3:29)
(09) Canto de los Shawnee (2:16)
(07) Canto de guerra de los Bari (6:19)
(08) Improvisación com dos Teponaztli (6:14)

2ª Hora: Grupo Sema (Espanha)
“De um total de aproximadamente duas mil cantigas galaico-portuguesas da Baixa Idade Média, existentes em vários cancioneiros, infelizmente apenas se conservaram com música as seis obras atribuídas ao jogral de Vigo, Martin Codax, e as pertencentes ao fabuloso espólio conhecido por “Cantigas de Santa Maria”.
A coleção de “Cantigas de Santa Maria” abarca 426 obras dedicadas à Virgem e foram compostas na segunda metade do século XIII, por volta de 1250-80, sob a direção do então rei de Castela, Afonso X, el sábio (1221-1284). Pela sua coerência temática e formal, pela sua homogeneidade estilística, pelo seu número e até pela beleza dos próprios manuscritos que as contêm (alguns deles com luxuosas miniaturas), esta coleção tornou-se num fenómeno particular na história da música medieval e constitui o cancioneiro com mais variedade de temas acerca da Virgem Maria em toda a Europa.
Várias e excelentes são as abordagens que alguns dos melhores grupos que se dedicam à música antiga foram fazendo ao longo dos tempos, nomeadamente as de Clemencic Consort, Sequentia, Obsidienne, Jordi Savall, Alla Francesca, Esther Lamandier, Joel Cohen, Antequera, Ensemble Gilles Binchois e Eduardo Paniagua, entre outros. Uma das mais significativas interpretações feitas a este monumento medieval é a do Grupo Sema, um ensemble vocal e instrumental de Espanha dirigido por Pepe Rey e constituído por quatro cantores solistas, um coro de oito elementos e oito instrumentistas. Tendo-se especializado nos repertórios da Idade Média e do Renascimento, o Grupo Sema atingiu o auge da sua criatividade com o extraordinário Las Cantigas de Alfonso el Sabio”, um registo duplo que contém 17 cantigas e um libreto de 91 páginas”.
(06) II. Cantiga 367: Grandes miragres faz Santa Maria (8:18)