domingo, 24 de março de 2013

87. Khaled (Argélia) - L'Orient Imaginaire (Bulgária/Turquia)



Encantos da Alma  (24/03/2013)
1ª hora: Khaled (Argélia)
Khaled Hadj Ibrahim, mais conhecido por Khaled é o melhor cantor argelino de raï de todos os tempos e um dos poucos músicos do Magrebe que obteve protagonismo global. Nascido em 1960 na zona portuária de Orão, começou a sua carreira quando ainda era adolescente, usando o nome de Cheb Khaled (jovem Khaled). Em pouco tempo, Cheb Khaled converteu-se numa estrela na Argélia e num dos mais famosos cantores do mundo árabe, pelo menos no ocidente europeu.
A música que Khaled pratica provém do raï original, cuja designação deriva, provavelmente, do seu uso pelos cantores beduínos, que começaram a justificar as letras das suas canções com os ditos de “Ya Raï”, que significa “É a minha opinião”. O pop-raï, onde se inclui e destaca o nome de Khaled, é, por sua vez, o resultado de uma aproximação do raï originário à pop ocidental, importada por via marítima. Os temas do seu repertório acentuam a tónica no excesso e o acento da liberdade individual, o que inviabilizava a sua difusão na rádio.
Desde pequeno que Khaled expressava a sua admiração pela música egípcia de Umm Kalsoum ou o reggae de Bob Marley. Aprendeu canto e acordeão e começou, de acordo com a tradição, a tocar em festas de circuncisão e bodas. Com 14 anos, Cheb Khaled aprendeu a tocar guitarra, baixo e harmónica e, aos dezasseis, gravou o seu primeiro disco, o EP “Trig el-lisi”. Em 1986, Khaled deixou de usar no seu nome artístico “Cheb” (jovem, em árabe) e, em 1989, em Paris, para onde se mudara entretanto, gravou “Kutché” (1988), em colaboração com o teclista Safy Boutella, o seu primeiro registo no mundo ocidental, que aproxima a música árabe ao jazz e ao pop. Em 1991, Khaled publicou o seu segundo álbum, de título homónimo (1992), o primeiro em nome próprio e o de maior sucesso. A partir daí, editou vários discos, de entre os quais se podem destacar N'ssi N'ssi” (1993), que funde o rock, o funk e a música egípcia; “Sahra” (1996), com Jean-Jacques Goldman; “Kenza” (1999), gravado por todo o mundo e que continha funk, pop, reggae e música árabe; e o disco ao vivo “1, 2, 3 soleils” (2000), em conjunto com Faudel e Rachid Taha, que o consolidou como o ”rei do raï”.  
(02) Kutché (5:59) “Kutché”
(01) Didi (4:59) “Khaled”
(04) Chebba (5:36) N'ssi N'ssi”
(07) Ya Aachkou (3:58) “Kenza”

2ª hora: L'Orient Imaginaire (Bulgária/Turquia)
L'Orient Imaginaire é um ensemble fundado pelo búlgaro Vladimir Ivanoff, o mesmo que já havia inventado o conceito de música eletrónica medieval, nos Vox, e a relação existente entre a música europeia medieval e as culturas musicais do Islão, nos Sarband. Vladimir Ivanoff, percussionista e alaudista, faz-se acompanhar pelos turcos Mustafa Dogan Dikmen (voice, ney, kudüm), Ihsan Mehmet Özer (kanun), Ahmed Kadri Rizeli (kemence rumi) e Mehmet Cemal Yeslçay (oud). Posteriormente, juntaram-se-lhes outros músicos de proveniências diversas e as vozes extraordinárias da inglesa Belinda Sykes, líder dos Joglaresa, e da libanesa Fadia El-Hage, cantora dos Sarband.
O multifacetado repertório dos L'Orient Imaginaire compreende música tradicional do oriente europeu e do ocidente do continente na Idade Média, bem como música clássica e contemporânea. Fazendo um conjunto inovador que explora uma variedade estonteante de estilos, o coletivo búlgaro-turco elabora uma mistura eclética de música tradicional e clássica do oriente e a do ocidente medieval, para além de alguns originais inspirados.
Até à data, os L'Orient Imaginaire têm editados 3 registos: “Yehudi - Jewish Music From The Seraglio” (1996, Elektra/Asylum e Teldec), um álbum de Música Antiga judaica na tradição sefardita, especificamente música otomana (clássica turca), do século XVIII aos inícios do século XX, por compositores judeus sefarditas na corte otomana; “Labyrinth: Medieval & Bulgarian Music” (Teldec, 1998), um registo de música tradicional búlgara e do oeste medieval europeu, interpretada por maravilhosas vozes femininas e “Alla Turca” (Teldec 1998), com obras que datam dos séculos XVII e XVIII da corte otomana, bem como peças da música oriental realizadas por compositores europeus, numa mistura de tradições europeias e asiáticas.”  
(01) I. Tanbûrî HAHAM MUŞE FARO. Küçek Peşrevi (instr.) (5:01) "Yehudi”
(05) Zamraknala Tunka Yana (Traditional Bulgarian, 14c) (3:45) “Labyrinth”
(13) “Der Deste” (4:56) “Alla Turca”
(08) “Busis derdim” (4:44) “Alla Turca”

domingo, 17 de março de 2013

86. Zap Mama (Bélgica/Zaire) / Música do Antigo Egito (Egito)



Encantos da Alma  (17/03/2013)
1ª hora: Zap Mama (Bélgica/Zaire)
Marie Daulne, natural de Isiro no Zaire (atual República Democrática do Congo), filha de mãe africana e pai belga, resolveu juntar-se a outros músicos que tivessem uma forte ligação entre o continente africano e o europeu. Formou, assim, nos anos 90, as Zap Mama, com Sylvie Nawasadio, Cecilia Kandonda, Celine 'T Hooft e Sabine Kabongo. Idealizado primeiramente como um grupo coral, as Zap Mama evoluíram, entretanto, para um conceito mais abrangente de World Music, em que as influências de ritmos tribais se misturam ao soul, rhythm & blues, pop e hip-hop, numa mistura que soa, ao mesmo tempo, original e ultra moderna.
Foi pelo regresso às raízes musicais, essencialmente vocais, dos povos mais ignorados do mundo atual que Marie Daulne tomou consciência da grandeza e da força das capacidades humanas na expressão musical. A utilização do corpo, do suspiro, da respiração e da vibração das cordas vocais pelos pigmeus, que não recorrem a instrumentos elaborados, fascinaram a mentora das Zap Mama de tal modo que a maior parte do seu repertório, pelo menos o da primeira fase do grupo, transmite toda a beleza e a pureza dessa cultura, uma das mais antigas de África.
As Zap Mama editaram até à data sete registos: Zap Mama (1992), Sabsylma (1994), Seven (1996), A Ma Zone (1999), Ancestry in Progress (2004), Supermoon (2007) e ReCreation (2009). É o primeiro registo deste coletivo belgo-zairense, o único verdadeiramente imprescindível, que vamos aqui destacar. Nesse álbum, simplesmente intitulado Zap Mama (editado pela prestigiada Crammed Discs), o grupo, de forma superlativa, atinge o auge da criatividade, elaborando ritmos e arranjos onde polifonia e polirritmia se casam de forma exemplar. A riqueza e a diversidade das canções populares da Síria, Ruanda, Zaire, Tanzânia e Espanha, bem como dos pigmeus da República Centro-africana e dos zulus da África do Sul desfilam no álbum como autênticas pérolas da World Music.”
(01) Mupepe (3:50)
(16) Brrrlak! (3:30)
(03) Abadou (4:07)
(14) Babanzele (7:40)

2ª hora: A Música do Antigo Egito (Egito)
Até à data, era costume considerar a música grega (dos séculos V ao I a.C.) como o início para o estudo da música ocidental. Contudo, sabia-se existir um vazio no nosso conhecimento sobre a origem desta forma de arte. De onde teriam partido os gregos para desenvolver o seu sistema musical? Não existiam dúvidas que incorporaram muitos elementos novos e que delimitaram os conceitos e criaram uma ciência musical propriamente dita. Agora sabemos que continuaram uma tradição musical milenária integrada na cosmologia, em grande parte proveniente do Egito e da Suméria, que começa no 3.º milénio a.C. e que seguiria unida à filosofia helenística e perduraria durante a Idade Média.
Recorrendo a várias fontes ou “campos de investigação”, como o estudo rigoroso dos instrumentos conservados em museus e a sua reprodução fiel, a análise do folclore do vale do Nilo, da música copta e da iconografia no Egito, vários egiptólogos têm chegado a conclusões minimamente precisas de como era a música no tempo dos faraós. Todo este esforço resultou na descoberta de uma teoria musical, de uma sofisticação inimaginável há algumas décadas atrás, patente em obras como “La musica en la era de las Pirámides”, do musicólogo e compositor espanhol Rafael Arroyo.
Vários são os registos fonográficos que, com maior ou menor rigor, se debruçam sobre a música do Antigo Egito. Salientam-se, entre outros, “Music of the Ancient Sumerians, Egyptians & Greeks, do ensemble americano De Organographia; Ancient Egypt, do libanês Ali Jihad Racy; Ankh: The Sound of Ancient Egypt, do australiano Michael Atherton; Musicin the age of the Pyramids, do Hathor Ensemble, de Espanha; e The Miracle of Egypt, dos egípcios Pharaoh”.  
(1) De Organographia (EUA) (1) Musical Excerpts (3:02) “Music of the Ancient Sumerians, Egyptians & Greeks”
(2) Ali Jihad Racy (Líbano) (2) The land of the Blessed (6:56) “Ancient Egypt”
(3) Michael Atherton (Austrália) (17) Shen (song) (5:02) “Ankh: The Sound of Ancient Egypt”
(4) Rafael Pérez Arroyo / Hathor Ensemble (Espanha) (3) Iba Dance (6:59) “Ancient Egypt: Music in the age of the Pyramids”

domingo, 10 de março de 2013

85. Najma Akhtar (Inglaterra/Índia) / Ars Antiqua e Schola Cantorum de México (México)



Encantos da Alma  (10/03/2013)
1ª hora: Najma Akhtar (Inglaterra/Índia)
Najma Akhtar ocupa uma posição relevante nos circuitos da world music. Nascida em solo britânico, é filha de imigrantes indianos oriundos do Punjab, região onde há muitos séculos foi adotada uma forma de poesia lírica de origem árabe denominada “ghazal”. Originalmente um poema de amor apenas dirigido à mulher, o “ghazal” tem viajado a bordo de diversos veículos musicais até ao início recente da sua travessia bem sucedida do mercado da música popular, circunstância que tem sido explorada de modo feliz pela cantora.
Najma é dona de uma voz intensa e superlativa que, em sucessivos passes de magia, concilia sobriedade, lirismo e intensidade dramática, levando os espetadores ao êxtase. A sua atitude perante a música tem em vista, não a radicalização do processo evolutivo das canções populares indianas nem a sua ocidentalização, mas a fusão destas com elementos da música moderna ocidental. A ossatura central da música de Najma é indiana, baseada em jogos melódicos e rítmicos, voluptuosos como danças do ventre, entre voz, cítaras e tablas; Najma acrescenta-lhe violinos, saxofones, guitarras e sintetizadores, desenhando, assim, harmonias estranhas e belas em torno da voz exótica e fascinante.
Da discografia de Najma constam oito registos: Ghazals (1986), Qareeb (1987), Atish (1989), Pukar(1992), Forbidden Kiss (1996), Vivid (2003), Fariyaad (2008) e Rishte (2009). Em todos eles, Najma canta e encanta, fazendo da música pura fonte de emoções.”
(05) Pukar (without tabla) (4:21) Pukar
(03) Apne Hathon (5:26)Atish
(03) Pukar (4:39) Pukar
(01) Neend Koyl (6:42) Qareeb

Ars Antiqua, dirigido por Eduardo Arámbula, é um dos raros ensembles que se dedicam à música antiga no México, tendo já granjeado o reconhecimento do público e da crítica internacional. Do repertório do grupo, constam temas da música helénica do século II a.C., música de trovadores e jograis medievais, composições da Carmina Burana original, nubas árabo-andalusas, temas da tradição sefardita, canções e danças do Renascimento e músicas do vice-reinado mexicano.
Schola Cantorum de México, dirigido por Alfredo Mendoza, é um centro de formação coral que se desenvolveu paulatinamente a partir de 1988, em torno de um destacado coro de crianças. Como complemento natural do coro infantil, foram-no integrando sucessivamente um coro de homens (1988) e um coro misto de câmara (1992). Do seu repertório constam polifonias espanholas do Renascimento, música religiosa dos vice-reinados hispano-americanos e, sobretudo, obras de grandes autores europeus como Victoria, Pergolesi, Vivaldi, e Fauré, entre outros.... (mais informações)  
Ars Antiqua e Schola Cantorum de México juntaram-se para realizar em 1993 a primeira gravação no México do Llibre Vermell de Montserrat, um dos mais preciosos códices do século XIV, assim chamado por estar encadernado em veludo vermelho, desde finais do séc. XIX. Trata-se de uma miscelânea religiosa copiada, na sua maior parte, por um só indivíduo, constituído por um programa com as canções dos peregrinos medievais de veneração à Virgem Maria. A interpretação dos grupos é fidedigna e exemplar”.
(05) Los set goyts (5:59)
(06) Cuncti Simus (4:05)

domingo, 3 de março de 2013

84. Savina Yannatou e Primavera en Salonico (Grécia) / Alain Chekroun & Taoufik Bestandji (Israel/ Argélia)



Encantos da Alma  (03/03/2013)
No âmbito da ECM Lisbon Series, uma associação entre o Centro Cultural de Belém e a prestigiada editora alemã ECM – casa discográfica de muitos dos mais importantes e inovadores músicos da atualidade fundada por Manfred Eicher em 1969 – veio a Lisboa este fim-de-semana (sexta, 1 de Março), a destacada cantora grega Savina Yannatou, acompanhada do agrupamento Primavera en Salonico. Natural de Atenas, Savina iniciou a sua carreira musical em 1979 e encetou com o grupo Primavera en Salonico um caminho comum desde 1993, afirmando-se como um expoente máximo  das músicas do Mediterrâneo.
No seu belíssimo canto, Savina alia a sensualidade da música tradicional da Grécia com a expressividade típica do “rembetiko”, o “blues grego” como já foi apelidado, tão profundo como o fado, marcado pelo oriente muçulmano, pelas várias tonalidades das diversas culturas mediterrânicas e pela espiritualidade dos judeus sefarditas expulsos da Península Ibérica no séc. XVI quenínsula Ibérica no séc. XVI que, encontraram refúgio em Salónica.
Da discografia de Savina Yannatou com o projeto Primavera en Salonico constam seis registos: “Spring in Salonica” (1995), “Songs of the Mediterranean” (1998), Virgin Maries of the World(1999), “Terra Nostra” (2003), “Sumiglia” (2005) e Songs of an Other (2007). Neles, Savina interpreta romances sefarditas e temas tradicionais da Grécia e de praticamente todos os países banhados pelo Mediterrâneo. Celebrando as diferenças entre as várias tradições e as similaridades que partilham, Savina Yannatou percorre os vários imaginários do sul, com a expressividade, a sensibilidade e o rigor de quem nele mergulhou o corpo e a alma”.
(07) Como Poden Per Sas Culpas (2:35) ““Virgin Maries of the World”
(02) El sueño de la hija del rey (4:50) “Spring in Salonica
(10) Smyrnaean air (3:10) “Songs of the Mediterranean
(09) Schubho Lhaw Qolo (3:31) “Terra Nostra
(11) Ganchum em yar ari (3:08) “Sumiglia
(01) Sareri Hovin Mernem (5:38) “Songs of an Other”

2ª hora: Alain Chekroun & Taoufik Bestandji (Israel/ Argélia)
A música judaica antiga parece ter sido utilizada principalmente para o culto público, mas também em ocasiões, quase rituais, como coroações e celebrações. De facto, tal como indicam muitas passagens do Antigo Testamento, seria difícil para os judeus imaginar uma ocasião de alegria na qual não estivesse presente a música. Alain Chekroun & Taoufik Bestandji tiveram o engenho e a arte de lançar um dos registos mais inovadores dos últimos anos sobre a música judaica antiga.
Alain Chekroun, filho do grande rabbi da sinagoga de Constantina, célebre na comunidade judaica do Norte de África, é um cantor litúrgico, proveniente de Israel. Taoufik Bestandji, um dos mais importantes músicos argelinos da atualidade, é um percussionista e especialista no oud, o alaúde árabe. Juntos uniram esforços para produzir em 2007 o fascinante disco de fusão judaico-muçulmana, Chants des Synagogues du Maghreb(Magda Records), em o canto litúrgico dos judeus é acompanhado por músicos árabes.
Melodias da música clássica árabe do Magrebe, o Malouf adornam textos judaicos tradicionais (baseados nas cerimónias de circuncisão, do Shabbat e das festas) e textos tirados da Bíblia. O ritmo, a alquimia da heterofonia, o jogo de timbres, a reconstrução da métrica poética da música profana andaluza entroncam e enriquecem o piyyat, isto é, o canto litúrgico judaico e fazem de “Chants des Synagogues du Maghreb” um regalo para os ouvidos”.
(02) Kel adone (6:48) (Ler o texto até 1:19)
(03) Rahamekha (9:12)
(06) Ephtah pi (4:56)