domingo, 26 de maio de 2013

95. Rabih Abou-Khalil (Líbano) – Ensemble Tre Fontane (França)



Encantos da Alma  (26/05/2013)
1ª hora: Rabih Abou-Khalil (Líbano)
Rabih Abou-Khalil, famoso alaudista do Líbano, estudou música árabe no Conservatório de Beirute, Alep e Damasco. Em 1978, a guerra civil fê-lo trocar o Líbano pela Alemanha, onde vive atualmente. Considerado um compositor e instrumentista vanguardista e uma das maiores figuras europeias do jazz de fusão, Rabih Abou-Khalil possui uma discografia invejável e mais de meio milhão de discos vendidos em todo o mundo. Só em 1999, por exemplo, Abou-Khalil recebeu cinco prémios da German Phono Academy.   
Mestre do oud, instrumento que desde sempre procurou explorar de maneira inovadora, Rabih Abou–Khalil criou uma linguagem musical universal que é apreciada e elogiada por amantes e críticos que vão desde a música clássica ao jazz e desde a música contemporânea à world music. Com um percurso musical à escala mundial, Rabih Abou-Khalil desconstrói as fronteiras estéticas e mistura a tradição árabe com o jazz, o rock e a música erudita, elevando a interpretação do oud a um sublime virtuosismo, em sonoridades ousadas e, ao mesmo tempo, hipnóticas. Foi neste exercício de inovação que surgiu a fusão do músico libanês com o fado e a voz apaixonante de Ricardo Ribeiro, a confirmar nos concertos que dará em Junho, em Águeda e Estarreja, enquadrados na edição do Festim 2013.
Ao longo da obra de Abou-Khalil, é visível um percurso que parte da música tradicional, em “Nafas”, para chegar a uma síntese única da escrita ocidental e do jazz com o conceito do “taqsin” (improvisação árabe), na série da Enja, – luxuosamente embalada a ouro e prata – de que fazem parte 21 registos, entre os quais os emblemáticos “Al-Jadida”, “Blue Camel”, “Tarab”, “The Sultan’s Picnic”, “Arabian Waltz” e “Journey to the Centre of an Egg”. O resultado desta evolução é que a música de Khalil se transformou numa “nova tradição”, sem precedentes, onde oud, piano e percussões se casam sabiamente entre o humor e a meditação e onde as várias influências estilísticas se cruzam numa linguagem universal capaz de suplantar barreiras.”
(01) Sahara (8:18)Blue Camel
(02) After Dinner (5:53) Tarab
(02) Nasbwa (9:33) Al-Jadida

2ª hora: Ensemble Tre Fontane (França)
“O Ensemble Tre Fontane, um trio originário do Sul de França, região trovadoresca por excelência, é um dos mais inventivos e convincentes grupos vocais e instrumentais que se movem no domínio das músicas antigas. Ao longo dos anos, os Tre Fontane têm-se empenhado na recolha de repertórios inéditos ou pouco conhecidos, sobretudo da Idade Média e têm-se esforçado em proporcionar aos nossos ouvidos e sensibilidades de homens de hoje, todas as subtilezas e encantos das vozes do passado.
O Ensemble Tre Fontane existe desde 1986 e incide o seu repertório sobre a arte medieval de "trobar" (criar poesia e música) e de "Joglar" (a arte de tocar). Tem incidido, sobretudo, nas obras dos trovadores dos séculos XII e XIII, da região da Aquitânia, nomeadamente Guiraut de Bornèlh (poeta da “alba” deliciosa), Bertrand de Born (trovador, senhor da guerra e mestre da política), Arnaut Daniel (adepto do trobar e do texto realista), Arnaud de Mareuil (no estilo e inspiração amorosa), entre outros.
Da criteriosa discografia do Ensemble Tre Fontane, constituída por onze registos, a maioria editada pela Álba musica, fazem parte autênticas obras-primas do repertório medieval peninsular, francês e italiano. De entre elas, salientam-se “L'Art des Jongleurs, vol. 1” (1987) e “vol. 2” (1989), dedicados a estampies italianas, virelais e ballades de Guillaume de Machaut, bem como a extratos do Codex Faenza, um documento de primordial importância para o estudo e aprofundamento das técnicas interpretativas da música da Idade Média; “Le chant des Troubadours, vol. 1” (1991) e “vol. 2” (1993), sobre os trovadores da Aquitânia, sobretudo da região de Périgord; e Luz de la Mediterrania”, registo dedicado ao encontro entre trovadores occitanos e músicos árabo-andaluzes, na corte do rei Afonso X, o Sábio, de Leão e Castela, do século XIII.”
(09) Reis Glorios (5:33) “Le Chant des Troubadours, Vol.2”
(02) L’ensenhaments e’l prètz e la valors (4:07) “Le Chant des Troubadours, Vol. 2


domingo, 19 de maio de 2013

94. Ganoub (Egito) – Ensemble Unicorn (Áustria/…)



Encantos da Alma  (19/05/2013)

1ª hora: Ganoub (Egito)
“A música do Egito está sempre presente, quer na vida quotidiana, quer no tempo das festividades. Esta omnipresença da música e da dança, graças, sobretudo, aos filmes, às festas citadinas, aos cabarets, à rádio e à TV, tem gerado constantemente novos valores, num país onde ser-se músico profissional ou compositor reveste primordial importância.
O grupo Ganoub, que em árabe quer dizer sul, é um exemplo perfeito da efervescência da música egípcia, que se carateriza por uma constante interpretação das formas popular e clássica. Formado em 1997 em torno de Mostafa Abdel Aziz, considerado o último tocador de arghoul (uma flauta dupla, o mais antigo instrumento de sopro conhecido, praticado desde os primórdios da civilização), o grupo Ganoub é constituído por quatro cantores e músicos tradicionais do Alto Egito (Núbia), todos eles descendentes de profissionais profundamente envolvidos na música tradicional da região, cujas raízes remontam ao Antigo Egito. O seu principal objetivo foi o de restituir à música tradicional da região da Núbia o lugar que sempre ocupou na sociedade, sem ser um cliché do folclore superficial e sem recorrer a imitações banais de formas artísticas que já não existem mais.
Em 2001, os Ganoub editaram “…en arabe veut dire sud”, para a prestigiada Naïve, o único registo que se lhes conhece. Um cantor com uma voz poderosa e evocativa, um percussionista especializado em instrumentos como a darbuka, o doff e a doholla e um tocador de lira núbia e de um acordeão oriental interpretam, com o flautista, temas tradicionais que nos convidam à reflexão, ao sonho e à dança e que nos conduzem nas brumas do tempo, para além do Mediterrâneo e do Nilo.”
(07) Dairin (8:06)
(09) Mawal (2:52)
(10) Leli (6:26)
(12) Eshado (8:05)

2ª hora: Ensemble Unicorn (Áustria/…)
O Ensemble Unicorn é um agrupamento vocal e instrumental dirigido pelo austríaco Michael Posch desde 1991 e constituído por cinco elementos, três deles originários da Áustria, um da Itália e outro da Alemanha. Especializado na música antiga, o ensemble tem-se dedicado à interpretação de temas da Idade Média ao Barroco e de composições próprias. Fá-lo, tanto quanto possível, em instrumentos originais e baseia-se nas danças, cantigas e temas medievais e renascentistas, numa procura incansável da autenticidade.
O trabalho do Ensemble Unicorn tem-se baseado essencialmente na tarefa de unir as muitas tradições que influenciaram e enriqueceram a cultura musical europeia ao longo dos séculos. O estabelecimento de pontes entre o antigo e o moderno e entre o Oriente e o Ocidente tem sido, assim, o principal objetivo do grupo, desde a sua fundação.
Até à data, o ensemble editou, onze registos, desde “Chominciamento di gioia” (1991), dedicado à música de dança do tempo de Decameron de Boccaccio, até “Minnesang in Südtirol” (2005), um disco com canções de amor dos trovadores medievais do Tirol do Sul. Entre um e outro, destacam-se os registos “Cantigas de Santa Maria” (1994) e “The Black Madonna” (1996), bem como os álbuns gravados em conjunto com o Ensemble Oni Wytars, nomeadamente “On the Way to Bethlehem (1994), “Music of the Troubadours” (1996) e “Carmina Burana” (1997).”
(11) Procurans odium (5:30) Carmina Burana
(01) Cuncti Simus (6:36) The Black Madonna

domingo, 12 de maio de 2013

93. Stephan Micus (Alemanha) – Orchestra Arabo-Andalusa di Tangeri (Marrocos)



Encantos da Alma  12/05/2013)


1ª hora: Stephan Micus (Alemanha)
“O multi-instrumentalista alemão Stephan Micus, viajante incansável desde a mais tenra idade, percorreu o planeta em busca dos mais exóticos sons do mundo. Aprendeu, simultaneamente, a tocar uma grande quantidade de instrumentos, a maior parte deles desconhecidos no ocidente europeu. Desde o seu primeiro trabalho "Archaic Concerts" (1977, Virgin) até "Panagia" (2012, ECM), Stephan Micus tem manipulado, com contenção e assinalável valor artístico, uma variedade assinalável de instrumentos pertencentes a diversas culturas e tradições musicais do nosso planeta. Da audição das sucessivas gravações de Micus, deduzimos a preocupação de exprimir musicalmente uma vontade de aproximar culturas e expressões até há pouco estanques e ignoradas.
A instrumentos tão exóticos quanto fascinantes como o "shakuhachi", a "dilruba", o "sho", o "sinding", o "bolombatto", o "rabab", entre muitos outros, que tem tocado ao longo dos anos, Stephan Micus acrescentou ultimamente, entre outros, o "maung" (40 gongos afinados de Burma), a "bagana" (a lira antiga da Etiópia), o "dondon" (tambor do Ghana), o "Kyeezee" (sinos de Burma usados em cerimónias budistas) ou o "ki un ki" (instrumento de sopro usado pela tribo dos Udegeys, da Sibéria). A intenção de Micus nunca foi a de tocar esses instrumentos da maneira tradicional, antes aproveitar novas possibilidades musicais que sinta que tem cada instrumento. Na maioria das suas composições, Micus utiliza vários instrumentos que nunca foram combinados. Por outro lado, Stephan Micus utiliza as técnicas mais avançadas para gravar as vozes que aparecem nos seus discos, criando harmonias mágicas que envolvem as suas composições como um perfume. O resultado são belos diálogos que refletem fielmente a sua visão global e sem fronteiras da música.
A audição dos seus discos tem constituído uma experiência encantatória: orações transcendentais, cânticos de elevação, rituais e transes que desfilam hipnoticamente rumo aos nossos sentidos; sonoridades do oriente árabe e asiático que se cruzam harmoniosamente com liturgias gregas, canto gregoriano e cerimónias budistas; sopros do vento e da alma das florestas africanas que entroncam em vozes celestiais. Um espaço imaginário emerge algures do fundo dos tempos...”
(01) Earth (6:24) The Garden of Mirrors
(06) Part 6 (8:46) The Music of Stones

Desde 711, quando os Árabes começaram a sua ocupação no sul de Espanha, emergiu uma nova era no campo do conhecimento. O sul da Península Ibérica tornou-se um exemplo único de tolerância, trocas e coexistência das culturas muçulmana, judaica e cristâ. Origina-se, assim, uma fusão cultural que ainda hoje pode ser reconhecida em várias áreas, desde a arquitetura às ciências e da medicina à música.
A Orchestra Arabo-Andalusa di Tangeri (Marrocos), no projeto "Incontro a Tangeri", parte de elementos comuns que as culturas musicais árabe, cristã e judaica conservaram durante mais de mil anos, com a esperança de que o novo milénio perpetue esta experiência. A alma de "Incontro a Tangeri" é a música andaluza, isto é, o património musical que se desenvolveu na Idade Média espanhola e que se transmitiu, até aos nossos dias, por via oral e o que as escolas de Fez, Meknes, Tetuão e Tânger, que nasceram depois da expulsão dos árabes da Península Ibérica, seguem.
"Incontro a Tangeri" está subdividido em quadros musicais, compostos por fragmentos, partes e estrofes de 3 nubas andalusas cantadas pelo marroquino Younes Chadigan, de romances sefarditas cantados por Esti Kenan Ofri (uma israelita de origem italiana, membro dos Kol-Tof) e de peças da música antiga cristã cantadas por Stefano Albarello, o italiano que lidera o Ensemble Cantilena Antiqua. Os arranjos de Jamal Ouassini, o marroquino que dirige a Orchestra Arabo-Andalusa di Tangeri, permite momentos livres que levam os três cantores a evidenciar o encontro das três culturas (cristã, judaica e árabe) e a sua origem comum, uma completa experiência espiritual de aproximação e de diálogo entre civilizações.”
(03) Secondo Quadro (7:08)
(06) Quarto Quadro part. 1 (7:32)
(07) Quarto Quadro part. 2 (11:13)