Encantos da Alma (12/12/2010)
Destaques:
1ª Hora: Mari Boine (Saami/Noruega)
”O território Saami é a maior região rural contínua da Europa, estendendo-se pela costa noroeste da Noruega, pelo Norte da Suécia e da Finlândia e ainda pela península de Kola, no Noroeste da Rússia. Os Saami, estimados em cerca de 50 mil, são, muitas vezes, conhecidos no Ocidente por Lapões e o seu território por Lapónia. No entanto, preferem que os tratem por Saami, palavra que significa simplesmente “Homem”, enquanto Lapão se pode traduzir por “povo que foi levado para o fim do mundo”.
A canção tradicional dos Saami, a joik, é anterior à sua evangelização e foi caracterizada por alguns investigadores como uma das mais antigas tradições musicais da Europa. Normalmente interpretadas à capela, ou seja, sem acompanhamento musical, com palavras ou só com sons vocais, que procuravam transmitir a essência de uma pessoa, de uma vida, de uma realidade, de um fenómeno, as joik foram rejeitadas pelos primeiros missionários cristãos que as consideravam “canções do diabo”.
Um joik pessoal é um símbolo acústico individual Saami, que é partilhado apenas num muito restrito círculo de pessoas. Aprende-se a joik quando se é criança. Os pais podem oferecer uma joik ao seu filho e, mais tarde, quando a criança se torna adulta, essa joik pode alterar-se. Também se pode dar uma joik à pessoa amada e, nesse caso, trata-se de um compromisso, de algo que está sempre presente. É uma oferta, uma prenda que durará para toda a vida.
A mais importante embaixadora cultural dos saami, a norueguesa Mari Boine Persen, tem-se dedicado a recuperar as entoações xamânicas do canto joik, cruzando-o com ritmos de todo o mundo. Com efeito, Mari Boine, saami mas também cidadã do mundo, junta a música tradicional do seu povo com a riqueza rítmica e harmónica de outras culturas ancestrais. Um encontro que passa pelo cruzamento dos sons étnicos de África ou da América do Sul com influências mais actuais como o jazz, o rock, a pop ou mesmo a música electrónica. Enceta, a cada álbum, autênticas peregrinações sonoras, utilizando instrumentos como o violino árabe, a charanga peruana, as flautas andinas ou as percussões africanas.
Com mais de vinte anos de carreira e catorze álbuns editados, optámos por divulgar aqui apenas os seus cinco álbuns mais significativos: “Gula Gula” (1989), “Goaskinviellja/Eagle Brother” (1993), “Leahkastin/Unfolding” (1994), “Bálvvoslatnja/Room of Worship” (1998), e “Gávcci Jahkejuogu/Eigth Seasons” (2002), verdadeiros manifestos que acrescentam novas sonoridades à joik tradicional. ”
(10) Duottar Rássi (4:30) “Gávcci Jahkejuogu/Eigth Seasons”
(01) Cuvges Vuovttat (3:52) “Goaskinviellja/Eagle Brother”
(07) Mu Váhkar Lásse (3:29) “Bálvvoslatnja/Room of Worship”
(03) Cuovgi Liekkas (5:04) “Leahkastin/Unfolding”
(04) Du Lahka (5:23) “Gula Gula”
2ª Hora: Ensemble Cantilena Antiqua (Itália)
”É sobretudo sobre as produções poéticas e musicais da Baixa Idade Média, mas também dos períodos imediatamente anteriores e posteriores, que se move a acção do Ensemble Cantilena Antiqua, fundado por Stefano Albarello em Bolonha (Itália) em 1987 e composto por músicos que se especializaram em realizar simultaneamente repertórios sagrados e profanos.
A recuperação dos repertórios antigos pelos elementos dos Cantilena Antiqua é o resultado de uma investigação cuidada em fontes musicais, na literatura e na história das épocas medieval e renascentista. A recolha musical abrange uma vasta gama de diferentes tradições musicais e a interpretação tem em conta, o mais possível, uma fidelidade à tradição, uma vez que o Ensemble assegura que são preservados os sons e estilos originais do período que abarcam.
Naturalmente que o Ensemble Cantilena Antiqua faz uso de réplicas de instrumentos para aprofundar particularmente o aspecto do desempenho. Desses instrumentos, que variam de acordo com o período abordado, contam-se alaúdes de vários tamanhos, flautas, bombardas, realejos, symphonia, percussões e violas, entre outros. Relativamente às vozes, os intérpretes variam cada tempo, de acordo com a polifonia, dando preferência a vozes masculinas e a contra tenor.
Da riquíssima produção discográfica do Ensemble Cantilena Antiqua, vamos destacar aqui os seus quatro registos mais importantes: “Ondas do Mar” (el canto de amor en el Mediterráneo del siglo XIII) (Symphonia 1998), uma mistura de sons, ritmos e letras que expressam com clareza o mundo musical do século XIII, principalmente da Espanha e da Sicília, mas também da Grécia e da Turquia; “Aines” (Mistero Provenzale Medioevale dell XV Secolo) (Symphonia 1999), sobre o Mistério de Santa Agnes, cujo martírio, narrado num manuscrito conservado na Biblioteca do Vaticano, se insere numa tradição de teatro popular religioso que se desenvolveu nos meios seculares; “Epos: Music of Carolingian era” (Documenta 2009), um registo com as produções poéticas e musicais do Império Carolíngio, preciosas relíquias de uma época musicalmente pouco explorada e quase nunca interpretada nos tempos modernos; e “Joys amors et chants” (Documenta 2009), com cantigas do trovador do século XII, Berenguer de Palol, da Catalunha. ”
(12) Ay ondas (3:47) “Ondas do Mar”
(05) Rei Glorios (5:51) “Aines”
(03) De la gençor qu’om vey (6:48) “Joys amors et chants”
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