Encantos da Alma (26/12/2010)
Destaques:
1ª Hora: Lhasa (México)
“Provavelmente uma das maiores perdas do mundo da música em 2010, desaparecida no primeiro dia do ano, Lhasa de Sela efectuou duas tournées em Portugal (com passagem por Lisboa, Famalicão, Coimbra, Aveiro e Porto) e evidenciou, até ao fim da vida, uma grande sensibilidade, beleza e maturidade.
Filha de um escritor mexicano e de uma fotógrafa e antiga actriz americana, Lhasa de Sela passou grande parte da sua adolescência a viajar numa carrinha com os seus pais e com duas irmãs, pela costa norte-americana e fronteira com o México, onde passou a residir. Aos 25 anos mudou-se para o Canadá, onde conheceu o guitarrista Yves Desrosiers, com o qual escreveu os temas que iriam compor o seu primeiro registo de originais, “La Llorona”, pleno de sentimento e sensualidade, em que Lhasa cantava em espanhol sobre paisagens sem nome, assombradas pelos blues, pela música cigana, pelos ritmos sul-americanos e pelo cabaret.
Seis anos mais tarde, a cantautora apátrida editou “The Living Road”, optando por diversificar o som e os instrumentos utilizados, cantar em espanhol, inglês e francês e afastar-se das sonoridades do primeiro registo, numa possível alusão à sua adolescência de constante itinerância.
Em 2009, Lhasa de Sela regressou com um registo simplesmente intitulado “Lhasa”, em que a sua voz comovente e bela percorria doze temas cheios de intensidade dramática, vislumbrando um México distante e etéreo construído por sentimentos de amor, desespero e melancolia profunda.”
(04) Por eso me quedo (3:51) “La Llorona”
(05) El Payande (3:31) “La Llorona”
(06) La Frontera (3:02) “The Living Road”
(05) J’arrive à la ville (5:58) “The Living Road”
(02) Rising (3:49) “Lhasa”
(06) Fool’s Gold (3:01) “Lhasa”
2ª Hora: Paulina Ceremuzynska (Polónia)
“Da rica tradição medieval em lírica profana galaico-portuguesa chegaram até aos nossos dias cerca de 1680 obras, das quais apenas 13 com notação musical. Conhecemo-las graças à descoberta dos manuscritos O Pergamiño Vindel (datado de finais do séc. XIII, que contém as sete Cantigas de Amigo do jogral galego Martin Codax, seis das quais com notação musical) e O Pergamiño Sharrer (composto no scriptorium do rei D. Dinis nos finais do séc. XIII ou inícios do XIV, descoberto no Arquivo da Torre do Tombo).
Da poesia trovadoresca, cerca de 500 são Cantigas de Amigo, compostas entre 1220 e 1350, por um total de 88 poetas, que constitui o maior espólio de poesia amorosa de voz feminina que sobreviveu da Europa pré-renascentista e a mais antiga manifestação literária da nossa história. O tema principal das Cantigas de Amigo é a expressão dos sentimentos de uma rapariga ao seu amado e faz referência à espera pela volta do seu namorado e aos seus encontros, ou ao lamento pela sua traição ou porque a mãe proíbe os seus encontros com ele.
A poesia trovadoresca abarca também as Cantigas de Amor, que supõem o equivalente galaico-português das cansó provençais. O tema principal tratado é o amor cortês e centra-se sobretudo no sofrimento que suporta um Homem enamorado duma perfeita, formosa e inacessível dama. Ao contrário da cansó, a cantiga de amor tem sempre refrão, em cujo tratamento se aprecia um grande virtuosismo.
A musicóloga e cantora polaca Paulina Ceremuzynska, acompanhada ou não pelo ensemble polaco-espanhol Meendinho, especializou-se na interpretação da tradição trovadoresca e aborda nos seus programas uma rigorosa e ao mesmo tempo criativa recuperação das cantigas galaico-portuguesas. Até à data, editou os fabulosos registos “Cantigas de Amor e de Amigo” (Cantigas profanas galego-portuguesas dos séculos XIII e XIV), com 9 cantigas de D. Dinis e 4 de Martin Codax e “E Moiro-me d’Amor" (Cantigas de desexo e soidade), com 16 cantigas de amigo de oito poetas medievais.”
(02) Don Denis - Cantiga III: O que vos nunca cuidei a dizer (5:30) “Cantigas...”
(09) Martin Codax - Cantiga IV: Ay Deus, se sab’ora meu amigo (4:33) “Cantigas...”
(03) Fernand'Esquío - Vayamos, irmana, vayamos dormir (3:20) “E Moiro-me d'Amor”
(09) Pero Meogo - Levad', amigo, que durmides... (4:25) “E Moiro-me d'Amor”
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